Qual é a ligação que a UFSC tem com a BraBo Tecnologia e há quanto tempo trabalham neste projeto?
A BraBo foi criada como empresa há dois anos e meio, quando ganhou o primeiro projeto da FINEP. Depois disso, ganhamos um projeto maior e agora trabalhamos no terceiro, que obteve R$ 8,6 milhões de financiamento por meio do edital do pré-sal, para um período de três anos. Essas chamadas de financiamento para projetos envolvem a UFSC e a empresa. A Universidade sozinha não tem condições de arcar com um projeto desse tipo, assim como a empresa precisa de uma instituição por trás. Esse último trabalho vem sendo desenvolvido há cinco anos e começou a ser desenvolvido na USP com desenvolvimento voltado para máquinas tuneladoras.
O que vai ser feito nesses três anos?
Executaremos três protótipos. No primeiro ano, iremos executar o primeiro protótipo que será testado em laboratório perfurando blocos de concreto. No segundo ano, utilizaremos uma pedreira aqui em Santa Catarina, onde vamos perfurar rochas duras que tenham a ver com características do pré-sal. E na terceira e última fase, daremos início ao projeto offshore, em águas rasas.
Como funciona essa tecnologia?
É uma tecnologia de perfuração de rochas a jato d’água capaz de dispensar a utilização de brocas. Isso pode oferecer ganhos de navegabilidade na camada sal, aumento das taxas de perfuração, além de cuidar para que o poço não se feche durante a perfuração do pré-sal, principalmente na camada de sal. A tecnologia é baseada em várias inovações, sendo a principal, o jato d’ água. É um mercado muito promissor para área de petróleo e gás, principalmente porque serve para a criação de linhas de gasoduto. Esperamos também que possa beneficiar também outros mercados na área de energia, mineração, etc.
Como funciona o Corte por tecnologia “smart-power”, que é um dos diferenciais da tecnologia?
É um segredo industrial. Uma tecnologia que usa baixa energia para romper rochas. O jato d’ água perfura o poço mas requer uma tecnologia complementar para aproveitar o material que sobra. A perfuração com brocas destrói tudo, já a tecnologia “smart-power”, com baixa energia, consegue trabalhar os blocos de material que sobram.
E quanto à extrusão?
A extrusão tem a ver com a completação do poço, revestindo-o para evitar problemas de colapso. Essa é uma inovação total ainda não utilizada em poços, mas que tem sido discutida inclusive com a Petrobrás. A parede de concreto é moldada concomitantemente com a escavação, enquanto a máquina avança a execução do poço. Para isso, dependemos de uma empresa que desenvolveu um tipo de concreto com alta resistência e rápido endurecimento. Então, à medida que a máquina avança, executamos esse revestimento que, após poucos minutos, já esta com alta resistência. Do contrário, usa-se a camisa metálica ou concreto pré-moldado, que são muito mais difíceis de trabalhar.
Quem está desenvolvendo o projeto e a que nível ele se encontra?
Tanto a UFSC quanto a BraBo. Contamos com um grupo de alunos bolsistas, mestrados, doutorados, inclusive da empresa também. Vale a pena lembrar que o projeto está em um nível inicial. Até agora, foram estudos, simulações, cálculos, ensaios de laboratório, etc. Agora iremos partir para execução de protótipo. A BraBo é especializada nisso e já está trabalhando nisso. Estamos transferindo a tecnologia que nasceu na UFSC com engenheiros que vão detalhando o projeto que, inclusive, conta com uma instalação no parque tecnológico de Santa Catarina, no INPETRO.
Qual o prazo para a instalação do primeiro protótipo?
Provavelmente no próximo semestre de 2012. Para isso precisamos de uma rede de alta tensão e instalação de rede de água com volume e pressão alta. Isso já está em fase final de construção para que a execução do protótipo aconteça no mês de julho.
A tecnologia é atrativa para a Petrobras?
É de interesse total deles. Ganhamos o projeto da FINEP que, na verdade, é vinculado às demandas tecnológicas do Pré-Sal. A maior inovação é o jato d’água, mas o que interessa para eles é a utilização dessa tecnologia em diferentes tipos de material como rocha dura, branda, sal. Quando falamos em perfuração com brocas, precisamos lembrar que há uma broca diferente para cada material que se quer cortar. Já o jato d´água não depende dessas especificações e, além disso, possui uma performance muito maior quanto à velocidade da perfuração que, em laboratórios, chega a ser até mesmo duplicada.
Isso já existe em algum país?
Não pra esse tipo de aplicação. A tecnologia com jato d’ água já foi utilizada para poços, mas normalmente é utilizada em conjunto com as brocas. Desconheço qualquer caso desses no Brasil, mas há registros de algumas experiências na Finlândia e nos Estados Unidos, por exemplo. Só que a tecnologia é sempre acoplada à broca. O que estamos propondo agora é um equipamento independente, uma perfuratriz operada remotamente que, dependendo do detalhamento de projeto, pode chegar a cerca de 30 metros de comprimento. Este equipamento possui certa flexibilidade e pode fazer curvas, sendo especialmente adequada para poços direcionais com pequenos raios de curvatura. É claro que temos componentes importados, mas mais de 70% da tecnologia é nossa. Portanto, podemos dizer que é uma inovação nacional.
Não é um projeto muito arriscado?
É prioridade nossa manter o máximo de embasamento e segurança porque a tecnologia pede muita inovação. Porém, como em qualquer projeto, quanto mais riscos envolve, mais atrativa a proposta se torna. Entretanto, queremos e precisamos gerenciar o risco da melhor forma possível. Nosso protótipo tem um Plano B e um Plano C. É óbvio que se tivermos que fazer uso do Plano C, a performance pode cair um pouco mas, ainda assim, representa uma forte redução dos riscos, tornando a tecnologia atraente para o investidor.
Qual a expectativa de vocês?
No meio termo, estamos aguardando investimentos e esperamos que, com evolução do primeiro protótipo, haja um impulso maior por conta da demanda do pré-sal. Nosso objetivo é justamente levar essa tecnologia até a perfuração do pré-sal. Visualizamos um horizonte de dois anos ou mais. Isto depende, é claro, do nível de investimentos que a gente consiga. A perspectiva maior é poder falar em negócio de tecnologia com alto rendimento para investidor, atraindo investimentos para esta área. Desenvolver tecnologias inovadoras ainda é muito incipiente no Brasil… estamos chegando lá!