A economia do Rio Grande do Sul, historicamente ligada às atividades agrícolas, ganhou um novo reforço. As lavouras seguem produzindo toneladas de grãos. As fazendas, milhares de cabeças de gado. Mas agora, o estado também passa a conviver com plataformas e estruturas para a exploração de petróleo, graças aos investimentos bilionários na indústria naval. Em 2004, a QUIP comandou a construção da P-53, a primeira experiência em solo gaúcho. Os próximos desafios do consórcio - formado pelas empresas Construtora Queiroz Galvão, UTC Engenharia, IESA Óleo e Gás, Camargo Correa e PJMR - são os projetos da P-55 e da P-63, orçado em US$ 1,3 bilhão cada. Para o futuro, o porto de Rio Grande pode sediar os projetos da P-58 e da P-62, ambos com a participação da QUIP. Confira a entrevista de Marcos Reis, diretor de suporte corporativo à gestão do consórcio.
Por Diniz Júnior e Maurício Gasparetto com a colaboração de Gilson Moreira
Se há 6 anos resolvessemos falar sobre plataformas, exploração de petróleo e estaleiro com os moradores de Rio Grande, as expressões provavelmente seriam desconhecidas. Hoje, o polo naval soa familiar aos ouvidos de quem mora na região sul. Como foi esse início em uma região não acostumada a esse tipo de atividade?
Marcos Reis: A Quip enfrentou esse desafio com muito otimismo, também foi a nossa primeira plataforma. O trabalho de implantar uma cultura de construção naval offshore também encantava pelo pioneirismo da ação. Contamos com o apoio de um povo acolhedor, autoridades, imprensa, todos unidos pelo desenvolvimento que esse tipo de empreendimento traria para o Estado do Rio Grande do Sul. Ao final, foi uma parceria de grande sucesso.
“Hoje, vemos o Polo Naval cada vez mais consolidado“
A P-53 foi um marco do chamado polo naval gaúcho. Quais foram as virtudes e os aprendizados do projeto inédito?
Reis: O maior aprendizado que podemos destacar foi que, juntos, podemos realizar o muito. O pioneirismo da QUIP e a absoluta convicção de que era imperativo cumprir prazos e metas, aliado a vocação e desejo local para o desenvolvimento da indústria naval offshore, foram fatores fundamentais que impulsionaram o sucesso desse pioneirismo. Isso acabou rendendo para a Quip o reconhecimento, pela Petrobras, de sua capacidade técnica e operativa e projetou o Rio Grande do Sul no quadro de construção naval offshore mundial. Hoje, vemos o Pólo Naval cada vez mais consolidado com a construção em andamento das plataformas P-55 e P-63 pela QUIP e, em curto espaço de tempo, inicia-se pela Engevix a construção dos oito cascos das FPSO’s.
O casco da P-53 chegou no dia 20 de setembro de 2007 no porto de Rio Grande. A saída da plataforma do cais ocorreu um ano depois, no dia 20 de setembro de 2008, data em que os gaúchos comemoraram a Revolução Farroupilha. Embora coincidência, como foi esta relação com os gaúchos?
Reis: Foi uma relação marcada pela transparência e pela correção. A Quip cumpriu absolutamente todos os compromissos assumidos com o Rio Grande do Sul, geramos mais de 1.500 empregos diretos e estimamos uma geração de negócios e renda no Estado na ordem de R$ 220 milhões, correspondente aos valores despendidos dentro do Estado. Adicionalmente, podemos exercer nossa parcela de responsabilidade social e ambiental, implantamos diversos programas de inclusão social voltados para a comunidade no entorno do nosso empreedimento. Na verdade, a P-53 saiu do Porto de Rio Grande em outubro de 2008. De qualquer forma, foram muito próximas as duas datas e o tempo de 12 meses para a integração foi um novo marco na construção de plataformas offshore no Brasil. Quando da entrada do navio-plataforma, os ventos impediam sua entrada nos dias anteriores e, justo no dia comemorativo da Revolução Farroupilha, marco na história do Estado, foi possível a entrada no Porto. A Quip se orgulha de ter produzido a primeira plataforma no Rio Grande do Sul e de ter encontrado essa sintonia com o povo gaúcho.
O desenvolvimento de mão de obra específica em um ambiente em que a maioria dos trabalhadores estava acostumada às lavouras de arroz e à pesca foi um dos maiores desafios?
Reis: Foi certamente um desafio, mas seria em qualquer local do país. A indústria naval renasceu nessa época e a Quip foi pioneira nessa retomada. Tivemos centenas de trabalhadores, mas também resgatamos antigos trabalhadores da indústria naval, muitos com mais de 60 anos que tiveram que passar por reciclagens no seu aprendizado e contribuíram para treinar e multiplicar o conhecimento entre os novos contratados. Hoje, presenciamos um momento marcante na economia da metade sul do estado, uma forte vocação para a indústria naval. É crescente a preocupação das autoridades locais em promover o desenvolvimento da mão-de-obra voltada para essa indústria em ascensão. Isso é muito bom, pois estamos só no início. Hoje, somente a QUIP já constrói em Rio Grande duas plataformas de grande porte: a P-55, que está sendo construída no Estaleiro Rio Grande, e a P-63, nas instalações da QUIP no Porto Novo. A demanda de mão de obra será crescente e, quanto mais preparada ela for, mais rápido será o crescimento do Polo Naval de Rio Grande.
“Hoje, presenciamos um momento marcante na economia da metade sul do estado, uma forte vocação para a indústria naval.”
Faltam trabalhadores para o setor? Qual o tamanho do desafio?
Reis: Se pudesse dimensionar o tamanho do desafio nos próximos dois anos, estaria falando em pelo menos 5.000 homens em diversas especialidades: soldadores, encanadores, operadores de guindastes, inspetores de qualidade, técnicos, engenheiros de diversas áreas e também cozinheiros e copeiros. Nós ressentimos de falta de mão de obra especializada. Temos desenvolvido parcerias importantes com SESI, SENAI, etc, que nos ajudam a qualificar os trabalhadores locais.
Quais os reflexos quando a empresa precisa trazer trabalhadores de outros municípios gaúchos e até de outros estados para Rio Grande?
Reis: O custo da mão de obra importada de outras regiões representa, sem sombra de dúvida, custos extras para o empreendimento. Por isso, é sempre melhor, para qualquer empregador, ter mão-de-obra local. O desenvolvimento de um empreendimento do porte de uma plataforma exige um planejamento meticuloso, onde a equação entre cumprimento de prazos e custo deve ser muito bem ajustada. Em algumas ocasiões, faz-se necessário trazer alguns determinados profissionais, mas o custo disso já está devidamente calculado. O importante é frisar que, com a consolidação do pólo naval gaúcho, em poucos anos teremos profissionais suficientes em todos os setores de atuação nesse setor. A continuidade dos negócios no Polo Naval fixará a mão de obra na região, evitando que este recurso humano se sinta impulsionado para mudar-se para outra região do país.
Do projeto da P-53 para os projetos da P-55 e da P-63, as atividades tiveram seu ritmo diminuído. Há a previsão deste intervalo ser reduzido?
Reis: A Quip nunca paralisou suas atividades em Rio Grande, mas houve um gap entre a plataforma concluída e os novos trabalhos que hoje estão em execução. A razão disso independe da vontade de todos: contratante, contratados, enfim. A Quip foi precursora do polo naval e vai continuar investindo em novos projetos para que a consolidação efetiva venha a ocorrer sem essas interrupções, que prejudicam a todos. Não imaginamos, na atual conjuntura, a ocorrência de um intervalo como o que ocorreu entre a P-53 e a P-55.
Como está sendo a relação com a comunidade?
Reis: O relacionamento com a comunidade é ótimo e tende a se intensificar a medida que os trabalhos de construção se intensificam. A Quip, diferente de quando chegou, já se considera uma empresa local, com investimentos em responsabilidade social, ambiental e cada vez mais
integrada com a cidade de Rio Grande e o Estado do Rio Grande do Sul.
“Os pessimistas que me desculpem, mas o Polo Naval já é uma realidade”
Apesar dos projetos já realizados e da confirmação de futuras obras, muitos ainda questionam a continuidade do polo naval em Rio Grande. Qual a sua previsão para esta atividade no porto gaúcho?
Reis: Os pessimistas que me desculpem, mas para a QUIP, que é a precursora de tudo isso, o Polo Naval já é uma realidade e conta com negócios pelo menos para os próximos 6 anos. Como exemplo, citamos a construção em andamento da P-55 e da P-63 pela QUIP, e os cascos de 8 FPSO’s a serem construídos pela Engevix. Ainda há a expectativa de vir para a região a construção da P-58 e, quem sabe, muito mais a ser confirmado no futuro. Toda essa gama de negócios mostra a pujança do Polo Naval de Rio Grande. O Brasil precisa de infraestrutura e precisa dos portos e estaleiros trabalhando a todo vapor. Conseqüentemente, investimentos em estradas, energia elétrica e transporte urbano virão em seguida.
Qual o recado que o senhor deixaria para a comunidade de Rio Grande e região?
Reis: Se tivéssemos que resumir em duas palavras, diríamos otimismo e comprometimento. A QUIP, como precursora do polo naval de Rio Grande, está muito feliz de ser a agente de desenvolvimento local e estreitará os laços com a comunidade, exercendo a responsabilidade sócio-ambiental com o respeito aos prazos contratuais e elevando o nome do Estaleiro do Rio Grande do Sul ao nível de reconhecimento internacional.
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