O oceanólogo francês Jean-Michel Cousteau é filho do legendário explorador Jacques Cousteau. Hoje, ele dirige a Organização Não Governamental (ONG) Ocean Futures Society (OFS). Através da ONG, Jean-Michel Cousteau e sua equipe viajam pelo mundo como "embaixadores do meio ambiente", levando à milhares de pessoas em vários países seus programas de conservação marinha e educação ambiental. Influenciado pelo pai, iniciou seus estudos marinhos aos 7 anos de idade. Mais tarde, cursou Arquitetura e especializou-se em Arquitetura Marinha. Participou de projetos de ilhas flutuantes, centros de estudos marinhos, aquários, mas acabou seguindo os rumos do pai.
Nesta entrevista especial que encerra a série de sete reportagens do Blog PORTOS&MERCADOS, Jean-Michel também fala de seu sonho de mudar a mentalidade do mundo no que se refere ao meio ambiente e às mudanças climáticas. Cousteau é um francês falante que mora nos Estados Unidos. Ele aborda com entusiasmo, quase infantil, os seus projetos. O filho mais velho do explorador Jacques Cousteau pode ser considerado o legítimo sucessor do trabalho do pai: sua principal luta é pela preservação dos oceanos, por meio de sua ONG, Ocean Futures SocietySociety (OFS).
Por Diniz Júnior
Como mudar o atual quadro amplamente negativo no que se refere a saúde do Planeta?
Podemos fazer a diferença: é nossa responsabilidade lutar por um mundo melhor. Em minhas viagens, desde os tempos que acompanhava meu pai, até os dias de hoje, percebo que estamos transformando os oceanos em uma lata de lixo. Muitos dizem que a miséria não protege o meio ambiente, e concordo com a afirmativa. A boa notícia é que podemos mudar, transformar tudo isso. Aposto na educação. Os jovens de hoje estão mais preparados para enfrentar o mundo. Os governos devem investir na educação. Muitos falam que a crise mundial dificulta as ações, mas eu digo que a crise é uma benção, evidente que é dolorosa. Entretanto, é uma grande oportunidade para enfrentarmos a realidade e sermos felizes. Temos de olhar para frente.
Quem são os vilões dessa história?
Somos nós mesmos. Quando apontamos um dedo para alguém e dizemos “má pessoa”, há três dedos apontando para nós mesmos. Quem utiliza de forma errada os defensivos agrícolas somos nós, não são as indústrias que os produzem. Quem joga nos rios as garrafas de plástico não é quem as produz. Continuamos agredindo, como sociedade, todo o meio ambiente no qual estamos inseridos, especialmente os oceanos, jogando toda espécie de lixo, produtos químicos, metais e outras substâncias nas águas, seja diretamente, seja deixando em um lugar onde depois a chuva leve para rios e mares.
Seu pai, Jacques Cousteau, foi o explorador dos oceanos mais conhecido do mundo.Como foi crescer sob o peso de um sobrenome que se tornou referência?
Quando eu era criança, meu pai ainda era relativamente desconhecido. Fazia parte da Marinha Francesa, e eu me impressionava mais com o uniforme dele do que com qualquer outra coisa. Era, claro, uma família que tinha interesses diversos da maioria das pessoas, que era pioneira em muitas áreas. Eu comecei a mergulhar com meu pai e meu irmão quando tinha apenas sete anos.Quando as televisões do mundo inteiro, especialmente dos Estados Unidos e da Europa, começaram a exibir seus programas, eu já estava com 30 anos e fazia parte de sua equipe. Mas nunca, desde criança, pensei em outra coisa que não o que faço agora. Apenas fico um pouco incomodado quando dizem que estou seguindo os passos do meu pai.
“Os jovens de hoje estão mais preparados
para enfrentar o mundo”
O sistema de sustentação de vida embaixo da água é semelhante ao utilizado no espaço. Existe uma colaboração entre a Ocean Futures Society e a Nasa. De que forma se dá essa parceria?
A Nasa é responsável pela melhoria da vida aqui na Terra. Trabalha diariamente com esse objetivo. É um erro pensar que o órgão só está voltado para fora do planeta. Eu sou um entusiasta do programa espacial, e ser astronauta era um dos meus sonhos de infância. Já dei o primeiro passo, já que todo astronauta é, em primeiro lugar, um mergulhador. É nos tanques de água que se simula a falta de gravidade que os astronautas irão enfrentar no espaço. As pessoas não têm ideia de como esse trabalho é intenso e amplo. Envolve estudos sobre a temperatura no planeta, sobre o que está acontecendo com a água do mundo. Fotografias tiradas de naves da Nasa nos ajudam a ter uma ideia exata da situação atual do planeta.
Governos como o norte-americano, que se recusou a assinar o protocolo de Kyoto, percebem essa urgência de mudança de atitude?
“É necessário ver o meio ambiente com outro olhar”
Aos poucos, sim. Os governos estão tomando consciência da questão ambiental da forma mais perigosa: já sentindo seus efeitos nocivos. Bairros de Nova York ficaram no escuro durante quase uma semana, por conta do calor. Na Europa, as temperaturas estão passando muito dos 30 graus no verão. Os sistemas responsáveis pela refrigeração das usinas nucleares superaqueceram e tiveram que ser desligados. Devido a isso, a usina também foi desligada. Imagine o prejuízo, e o número de pessoas prejudicadas. E, pense bem: isso não tem nada a ver com os governos, tem a ver conosco.
A Ocean Futures Society mantém algum programa de educação ambiental?
Temos alguns. O mais conhecido é o programa Embaixadores do Meio Ambiente, que colocamos em prática na Califórnia, no Havaí, em São Francisco e no Brasil. Colocamos as crianças em contato direto com a natureza, participando de programas de monitoramento e de recuperação.
Qual o papel dos portos no que se refere ao meio ambiente?
Os portos são o elo entre a terra e os oceanos, que é à base das nossas vidas. É necessário preservar os oceanos, a água. Hoje quando vou a um restaurante, pago três vezes mais caro pela água que vou tomar, do que pela gasolina que coloco no meu carro. É necessário ver o meio ambiente com outro olhar.
E como está, na sua opinião, a saúde do planeta Terra?
Há os que dizem que o aquecimento global faz parte de um ciclo natural do globo e que não há nada a temer. É engraçado como ultimamente se começou a falar sobre o derretimento das calotas polares. Por isso, parece que é um assunto novo. Mas eu e meu pai já falávamos sobre isso há 20 anos. Pregávamos no deserto, aliás. Há, além dos que acham que é um ciclo, os que dizem que, com o derretimento das calotas polares, a temperatura irá baixar. A situação está longe de ser controlada. Estamos perdendo espécies marinhas diariamente. Cerca de 30% dos corais tropicais do mundo desapareceram nos últimos anos. Eu mergulho em lugares onde ia há 30 anos, e eles estão muito mudados.
Assista ao vídeo em inglês sobre o trabalho realizado por Jean-Michel Cousteau
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