Nessa reportagem vamos mostrar que mesmo com grandes obras é possível manter uma relação sem conflitos entre o progresso e o ambiente. Exemplos como os botos e os leões marinhos que no Sul convivem com as obras de ampliação dos Molhes da Barra do porto gaúcho; em Imbituba, Santa Catarina, as baleias escolheram a região de acesso ao porto para procriarem; na Dinamarca, botos convivem próximas às gigantescas plataformas de petróleo do Mar do Norte.
Desde 2007, a Maersk Oil acompanha os botos em torno das plataformas
O projeto visa avaliar os resultados do impacto dos ruídos subaquáticos de petróleo e de gás sobre as atividades dos mamíferos. Steffen Bach trabalha como biólogo marinho na Maersk Oil há nove anos e conduz o projeto. “O impacto do ruído sobre a vida marinha é um tema que tem recebido muita atenção na Europa. Precisamos saber mais sobre esse assunto, a fim de tomarmos as decisões corretas”, avalia Bach.
Os botos estão presentes ao redor das plataformas na Dinamarca, o que reforça a ideia de que as plataformas offshore funcionam como recifes artificiais que atraem peixes. “Até agora os resultados indicam que não temos um impacto global negativo sobre a sua presença na área, mas ainda é muito cedo para chegar a uma conclusão definitiva”, conclui o biólogo.
Bach: “Precisamos saber mais sobre esse assunto”
Botos ameaçados pelos pescadores convivem com grandes obras
De um lado, o Oceano Atlântico. Do outro, águas que vem dos rios gaúchos e do Uruguai. Essa mistura de águas doce e salgada cria uma receita ideal de alimento, um verdadeiro bufê para peixes, aves e golfinhos. Na Região Sul, mamíferos brincalhões são chamados de botos.
O projeto Botos da Lagoa dos Patos, do Laboratório de Mamíferos Marinhos do Museu Oceanográfico da Universidade Federal de Rio Grande (Furg), monitora os animais desde 2002. O coordenador Pedro Fruet alerta que a mortalidade vem crescendo a cada ano, em função da interação desses mamíferos com as redes de pesca. “Quando ficam presos, morrem afogados ou têm ferimentos sérios, que geralmente os conduzem à morte. Logicamente, os pescadores não querem matá-los, mas eles acabam morrendo por asfixia”, explica o biólogo Pedro.
Equipe do Museu monitora os animais há oito anos
Os botos nadam nas águas próximas aos
molhes que ligam a lagoa ao mar
Curiosamente, os botos ficam em uma área onde ocorrem duas grandes obras portuárias: a ampliação dos molhes do porto gaúcho e a dragagem do canal de acesso, essenciais para tornar Rio Grande o principal distribuidor de cargas do Sul do Brasil, que tem um movimento anual de cerca de 2 500 navios. Não se tem notícia de nenhum acidente ligado às obras de infraestrutura envolvendo os botos. “O objetivo principal da pesquisa é monitorar a longo prazo essa população, ou seja, saber até que ponto ela está ameaçada ou não pela ação humana", explica o biólogo Pedro Fruet. Na foto uma nadadeira cortada por uma rede de pesca.
Após se enrrolarem nas redes os botos morrem por asfixia
Lobos e Leões-marinhos usam os Molhes da Barra como refúgio
Técnicos do Projeto Mamíferos Marinhos do Litoral Sul, desenvolvido pelo Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental, monitoram leões-marinhos que utilizam o Refúgio da Vida Silvestre (Revis), localizado no Molhe Leste (situado do lado de São José do Norte).
O refúgio compreende uma área de 1.000 metros de comprimento por 250 metros de largura, onde antes era a ponta do molhe. Com a ampliação do Molhe Leste em 370 metros, será verificado se eles permanecerão na mesma área ou se passarão a utilizar a nova ponta do longo braço de pedra construído mar adentro.
O Nema foi contratado pelo consórcio responsável pela ampliação para realização de um trabalho que envolve educação ambiental com o propósito de orientação aos operários sobre como agir em relação aos animais, implantação de um protocolo de conduta entre obras e animais e monitoramento semanal para avaliação da população desses mamíferos. O monitoramento objetiva analisar se ocorrem impactos e, caso aconteçam, fazer as medidas corretivas.
Segundo o oceanólogo Kléber Grübel da Silva, durante os mais de dois anos de obras, houve boa convivência entre os operários que nelas atuam e os animais. "Do ponto de vista do projeto, estamos conseguindo êxito no desafio, que é manter a população de leões e de lobos no Revis com mínimo impacto, viabilizando a ampliação dos Molhes da Barra do Rio Grande que é uma necessidade socioeconômica do País”, destacou o oceanólogo.
Nem mesmo o movimento intenso das obras atrapalha o descanso dos animais
No Porto de Imbituba as Baleias Francas são monitoradas
Com a chegada das baleias da espécie franca ao litoral catarinense e as atividades de ampliação e melhoria de infraestrutura na área portuária, teve início em julho a segunda edição do Programa de Monitoramento das Baleias Francas no Porto de Imbituba e adjacências.
O programa foi proposto pela administração do Porto, em conjunto com o Tecon Imbituba e a Construtora Andrade Gutierrez a fim de minimizar possíveis interferências no processo reprodutivo das baleias franca neste local. “É nossa atribuição legal zelar pela recuperação populacional desta espécie. A partir das conversas com o Porto, a situação tornou-se uma referência na conciliação de expansão portuária e proteção ao meio ambiente. E isto foi feito de forma exemplar porque o empreendedor se dispôs a considerar a necessidade”, afirmou a Chefe da APA da Baleia Franca, Maria Elizabeth Carvalho da Rocha. “O Programa de Monitoramento nos dá a segurança de que nossas atividades, não interferem no comportamento e na preservação da espécie que é símbolo da nossa cidade”, disse o Administrador do Porto de Imbituba, Jeziel Pamato de Souza.
Neste ano a previsão é que sejam avistadas 100 baleias que são monitoradas por terra, pelo mar e pelo ar
São três as áreas monitoradas pela equipe do Projeto Baleia Franca. Com um sistema de bandeiras e a comunicação instantânea por meio de rádios, as equipes de monitoramento informam sobre o posicionamento, a velocidade e a direção de deslocamento dos animais no entorno do Porto de Imbituba, a fim de que as atividades sejam paralisadas imediata e momentaneamente caso uma baleia franca entre na Área de Segurança, que compreende o raio de 2km a partir da fonte geradora de ruído, no caso, o bate-estacas. “Conseguimos executar 73% do trabalho que estava previsto para o período em que tivemos o monitoramento. É um número extremamente eficiente quando o valor agregado é a nossa responsabilidade com a questão ambiental”, afirmou Bruno Figurelli, superintendente do Tecon Imbituba.
Ficha Técnica
Reportagens e produção:Diniz Júnior
Edição: Guga V_W
Revisão: Fabíola Germano
Tradução: Eloá Ribeiro Galante
Fotos Projeto Botos da Furg: Pedro Fruet
Fotos Baleias Francas/Imbituba: Equipe do Projeto Baleia Franca
Fotos Botos na Dinarmarca: Solvin Zankl,Fjord&Baelt
Fotos lobos e leões marinhos: CBPO
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