Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) revela que cerca de 70% das substâncias químicas e resíduos que contaminam os oceanos, vêm de atividades humanas na zona costeira. Os outros 30% vêm de acidentes ou descargas feitas por navios, plataformas de petróleo e incineradores de alto mar.
Acompanhe no Blog Portos&Mercados a série de sete reportagens sobre os Oceanos. A importância de preservá-los; os grandes acidentes marítimos que poluíram e mataram milhares de espécies marinhas; o que as autoridades estão fazendo para a sua preservação e os programas de prevenção de grandes empresas. Começamos com a reportagem sobre o acidente com o petroleiro Prestige, que poluiu e matou milhares de espécies marinhas no litoral da Espanha.
A data é 19 de novembro de 2002. Após avaria no casco, o navio-tanque Prestige, partiu-se em dois e afundou, ao largo da costa da Espanha, nas proximidades da Galícia, carregando em torno de 77 mil toneladas de óleo combustível como carga (52 mil vazaram no mar), o restante foi arrastado ao fundo junto com o navio. Em janeiro de 2003 os sites especializados noticiavam que as autoridades espanholas haviam estimado em 950 milhões de Euros os gastos com a remoção do óleo e com a limpeza ambiental necessária. “Até hoje o mundo pergunta: se a Espanha tivesse oferecido um porto para refúgio, o navio teria se partido em dois e ocorrido o desastre ambiental?”, questiona o oceanógrafo e mestre em Engenharia Oceânica, Robson José Calixto, autor do livro Incidentes Marítimos. Segundo ele, foi o próprio governo espanhol que tomou a iniciativa de proibir a entrada de navios-tanque de casco singelo acima de 15 anos em seus portos e terminais, respaldado pelo decreto número 9, de 13 de dezembro de 2002. Para Calixto, isso abriu um precedente perigoso. “Os proprietários desses navios que costumam singrar as águas européias, poderão tender a querer se desvencilhar de seus ex-ativos nas águas dos países em desenvolvimento, imaginando, possivelmente, o recebimento de prêmios por arte das seguradoras”, disse Calixto.
O Prestige rachou ao meio e afundou a uma profundidade de cerca de 4 mil metros
O desastre ecológico trouxe ao debate a inadequação das leis que deveriam proteger o meio ambiente dos acidentes com cargas perigosas. Assim que o navio começou a vazar óleo, a Espanha, a França e Portugal se recusaram a permitir que ele atracasse. Isso, embora não evitasse a contaminação, permitiria pôr em local seguro a maior parte do óleo, que agora está no fundo do oceano. A Espanha decidiu, então, rebocar o Prestige para o alto-mar. Cinco dias sendo rebocado certamente não contribuíram para melhorar as condições do navio.
Atingido por ondas fortes, o Prestige rachou no meio e afundou até uma profundidade de cerca de 4 mil metros.Pelas regras da Organização Marítima Internacional, os navios fabricados antes de 1973 deverão ser aposentadas até o final de 2010. Os demais, até 2015. Cerca de 50% dos petroleiros com mais de 10 mil toneladas em atividade são de casco simples.
Local do naufrágio e um voluntário segura uma ave coberta de óleo
O velho navio, construído em 1976 no Japão, não agüentou o mau tempo e teve seu casco rachado ao norte da Espanha, numa região tão perigosa para a navegação que é conhecida como Costa da Morte. Por um rombo de cerca de 15 metros, o óleo foi despejado no mar. As correntes marítimas e o vento se encarregaram de levar a pegajosa camada negra até a costa.
Um gaúcho para salvar os animais contaminados pelo óleo
O coordenador do Centro de Recuperação de Animais Marinhos (CRAM) da Fundação Universidade do Rio Grande, Rodolfo Pinho da Silva Filho, fez parte da equipe do Fundo Internacional de Bem-Estar do Animal que trabalhou na recuperação dos animais contaminados pelo óleo derramado pelo Prestige. O médico veterinário e a veterinária Valéria Ruoppolo foram os únicos brasileiros a integrar o grupo, no litoral da Galícia, na Espanha. “O CRAM já participou de missões na África, Galápagos, Argentina, Uruguai e Espanha e todas envolvendo derramamento de óleo de navios petroleiros.
Na África, 20 mil animais foram contaminados”, disse o veterinário Rodolfo da Silva Pinho. Para ele, enquanto não surgirem alternativas de energia, o risco de acidentes é grande com navios petroleiros. “Quanto mais se produz, maiores são os navios e maiores são os desastres. Tem que haver maior responsabilidade, investimentos em prevenção por parte dos grupos que manejam petróleo”, disse Pinho.
Pinho: “Quanto mais se produz, maiores são os navios e maiores são os desastres”.
Barcellos: “É preciso encontrar um caminho que melhore o comportamento das pessoas”.
Para o diretor do Museu Oceanográfico da FURG, oceanólogo Lauro Barcellos, os oceanos são tratados como grandes latas de lixo. Para ele a humanidade não percebe e vai custar muito a perceber que existe uma capacidade limite de carga desses ambientes. “É preciso encontrar um caminho que melhore o comportamento das pessoas, pois é um desrespeito aos oceanos lançar indevidamente cargas de óleo na água, despejar lixo no mar, reduzir a forma brutal de interagir com a natureza”, diz Barcellos, que conclui: “Sabemos que existe um limite de suportabilidade, tanto que em muitas áreas do oceano já não há mais vida. As zonas costeiras do Brasil são desordenadamente ocupadas e devastadas, assim, suas riquezas não são utilizadas de forma a favorecer o meio”.
0 comentários
Postar um comentário