Por ZERO HORA/RBS
Isolado 85 dias por ano, em Tavares, para manter iluminado um dos mais importantes faróis do litoral gaúcho, um suboficial pernambucano da Marinha é o personagem de hoje da série Beleza Interior, que vai percorrer um destino diferente do Rio Grande do Sul todos os sábados de 2011
Ele apaga e acende a luz de um dos mais importantes faróis do Rio Grande do Sul. É o caseiro do mar, o zelador das ondas e do vaivém lírico da costa marinha gaúcha.
O suboficial Luis Carlos Donato Bacelar, 50 anos, pernambucano de nascimento e gaúcho por adoração, sobe 161 degraus quatro vezes ao dia. Mantém ativo o Farol de Mostardas, em Tavares, cidade litorânea de 5,2 mil habitantes, a 217 quilômetros de Porto Alegre.
Inaugurada em 1894 e reformada em 1940, a construção é um dos oito faróis que permanecem guarnecidos no Rio Grande do Sul, dispensando estrutura automática e dependendo do controle de um faroleiro.
Do mirante, o bege das dunas, o cinzento dos terrenos baldios e o verde escuro das águas formam uma fusão extraordinária.
– É um outro planeta, uma Antártica sem gelo – suspira.
Bacelar atravessa 85 dias por ano, de 6 de junho a 29 de agosto, na casa da Marinha aos pés do farol, completamente isolado, suportando a saudade da família. Pretende apenas iluminar, não ser O Iluminado de Stephen King:
– Não posso parar um minuto, cumpro permanente agenda física e intelectual para não ficar banzo.
A mulher, Denise, 49 anos, e seus três filhos – Luiz Carlos, 21 anos, Pedro Augusto, 18 anos, e Renato, 12 anos– moram em Pelotas. Ele não pode trazer nenhum parente durante o serviço.
– Meus olhos me fazem companhia – diverte-se.
Vinte e cinco barcos pesqueiros e mercantes que passam pela praia são suas visitas, ainda que visuais.
Bacelar não pode perder a hora. Liga o facho que atinge 40 milhas exatamente ao pôr do sol, às 17h45min, e desliga ao amanhecer, 7h10min.
Disposto a não enlouquecer, alimentou uma disciplina severa de pequenas e simpáticas missões. Uma delas é mandar quatro boletins meteorológicos diários para o Centro da Marinha, no Rio de Janeiro. Alistado desde que era adolescente, há três décadas no serviço, formado em Hidrografia e Navegação, ele se define um marinheiro de várias encarnações. Não existe porto que não conheça no país, de Belém a Rio Grande.
Sua dedicação ao farol gera ciúme na mulher, que telefona várias vezes de tarde.
– Eu entendo o ciúme. A torre é mesmo feminina, vestida de azulejos, demora para se arrumar e piscar para o oceano. Exige cuidados especiais, vaidosa como uma apaixonada – provoca.
E Bacelar não nega carinho à sua amante de 39 metros. Varre as escadas e pinta a fachada de preto e branco, sobe a cada mudança climática para tirar ou pôr as sanefas (cortinas) da cabine, e proteger as lentes e cristais franceses.
Ele tem acesso a entrar a qualquer instante no espaço sonhado por todo adolescente, em especial aos que já namoraram nas casinhas de salva-vidas e que sempre desejaram passar uma noite romântica no alto do farol.
– Vejo jovem tentando pular a cerca, mas não dá. Esse janelão tem dono.
O faroleiro do litoral se delicia com a exclusividade do horizonte. Lança o lampejo como quem coloca um poncho no mar.
Ele apaga e acende a luz de um dos mais importantes faróis do Rio Grande do Sul. É o caseiro do mar, o zelador das ondas e do vaivém lírico da costa marinha gaúcha.
O suboficial Luis Carlos Donato Bacelar, 50 anos, pernambucano de nascimento e gaúcho por adoração, sobe 161 degraus quatro vezes ao dia. Mantém ativo o Farol de Mostardas, em Tavares, cidade litorânea de 5,2 mil habitantes, a 217 quilômetros de Porto Alegre.
Inaugurada em 1894 e reformada em 1940, a construção é um dos oito faróis que permanecem guarnecidos no Rio Grande do Sul, dispensando estrutura automática e dependendo do controle de um faroleiro.
Do mirante, o bege das dunas, o cinzento dos terrenos baldios e o verde escuro das águas formam uma fusão extraordinária.
– É um outro planeta, uma Antártica sem gelo – suspira.
Bacelar atravessa 85 dias por ano, de 6 de junho a 29 de agosto, na casa da Marinha aos pés do farol, completamente isolado, suportando a saudade da família. Pretende apenas iluminar, não ser O Iluminado de Stephen King:
– Não posso parar um minuto, cumpro permanente agenda física e intelectual para não ficar banzo.
A mulher, Denise, 49 anos, e seus três filhos – Luiz Carlos, 21 anos, Pedro Augusto, 18 anos, e Renato, 12 anos– moram em Pelotas. Ele não pode trazer nenhum parente durante o serviço.
– Meus olhos me fazem companhia – diverte-se.
Vinte e cinco barcos pesqueiros e mercantes que passam pela praia são suas visitas, ainda que visuais.
Bacelar não pode perder a hora. Liga o facho que atinge 40 milhas exatamente ao pôr do sol, às 17h45min, e desliga ao amanhecer, 7h10min.
Disposto a não enlouquecer, alimentou uma disciplina severa de pequenas e simpáticas missões. Uma delas é mandar quatro boletins meteorológicos diários para o Centro da Marinha, no Rio de Janeiro. Alistado desde que era adolescente, há três décadas no serviço, formado em Hidrografia e Navegação, ele se define um marinheiro de várias encarnações. Não existe porto que não conheça no país, de Belém a Rio Grande.
Sua dedicação ao farol gera ciúme na mulher, que telefona várias vezes de tarde.
– Eu entendo o ciúme. A torre é mesmo feminina, vestida de azulejos, demora para se arrumar e piscar para o oceano. Exige cuidados especiais, vaidosa como uma apaixonada – provoca.
E Bacelar não nega carinho à sua amante de 39 metros. Varre as escadas e pinta a fachada de preto e branco, sobe a cada mudança climática para tirar ou pôr as sanefas (cortinas) da cabine, e proteger as lentes e cristais franceses.
Ele tem acesso a entrar a qualquer instante no espaço sonhado por todo adolescente, em especial aos que já namoraram nas casinhas de salva-vidas e que sempre desejaram passar uma noite romântica no alto do farol.
– Vejo jovem tentando pular a cerca, mas não dá. Esse janelão tem dono.
O faroleiro do litoral se delicia com a exclusividade do horizonte. Lança o lampejo como quem coloca um poncho no mar.
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