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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Crescer com segurança




Mauro Lourenço Dias*

Se os números do governo estiverem corretos, o Brasil registrou em 2010 um crescimento econômico da ordem de 8%, inferior apenas ao da China. Aparentemente, esse é um fato a ser comemorado. Mas, analisando tudo friamente, a comemoração deve ser feita com reservas. Afinal, para crescer a 8% ao ano, o País deveria ter se preparado mais porque qualquer analista mais isento sabe que, a continuar nesse ritmo, não é só o fantasma da inflação que pode ressurgir, mas a questão do apagão logístico.


Ninguém quer ver o País a vegetar em crescimento zero, mas quem conhece de economia sabe que esse crescimento deve ser sustentável, ou seja, para crescer sem sobressaltos e abalos, o Brasil precisaria dispor de uma infraestrutura menos atrasada, com investimentos mais bem direcionados. E não com a perspectiva de projetos megalomaníacos, como a construção do trem-bala entre Rio de Janeiro e São Paulo, que só servirá a passageiros, ou a promoção de eventos mundiais, como a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e a Olimpíada de 2016, que trazem muita visibilidade para o País, mas que, se não tiverem um acompanhamento seguro, também podem levá-lo à bancarrota. Mirem-se no exemplo da Grécia, que promoveu a Olimpíada de 2004.


Tanto isso é verdade que o novo governo passou a trabalhar com a perspectiva de um crescimento em torno de 5% em 2011. Afinal, para crescer a 8% ou mais, seriam necessários investimentos da ordem de 25% do Produto Interno Bruto (PIB). E, pouco acima dessa faixa o que está é a carga tributária brasileira, da ordem de 37% do PIB, uma das maiores e mais escorchantes do mundo.


Como se sabe, boa parte dessa arrecadação é para pagar e sustentar a corte de nababos do funcionalismo público e oferecer serviços públicos de Terceiro Mundo. Sem contar as altíssimas taxas de corrupção, como bem sabem aqueles que fazem relatórios para o governo norte-americano cujos teores acabam de ser divulgados por um site independente na Internet.


Para piorar, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), se não constituiu um fiasco completo, só conseguiu cumpriu satisfatoriamente, em quatro anos, 62% das obras previstas, excluindo-se saneamento e habitação, que registram atrasos ainda maiores. Basta lembrar que o governo passado admitiu que 18% dos projetos previstos para 2010 foram adiados para 2011.


Na área de infraestrutura, já se sabe de antemão que as obras incluídas nos PACs 1 e 2 serão insuficientes para a melhoria da produtividade dos portos, pois estão previstos investimentos de apenas R$ 15 bilhões, menos da metade do que o próprio governo acredita que seja necessário.


Seja como for, o que se espera é que o novo governo passe a dar tratamento prioritário à questão do reaparelhamento dos portos nacionais. Para se ter uma idéia clara de que até aqui houve muita jogada de marketing, basta assinalar que, em 2008, os portos receberam somente 17% dos investimentos em transportes.


Além das obras que estão apenas no papel, há atrasos consideráveis na construção ou recuperação de píeres, berços de atracação, terminais e pátios de estacionamento, além da necessidade de investir R$ 2,7 bilhões em obras de dragagem e aprofundamento dos canais de navegação cujos primeiros resultados estão previstos para o início de 2011.


Diante disso, parece óbvio que há necessidade urgente de aumentar os investimentos e, sobretudo, executá-los de acordo com um cronograma rígido, sem atrasos. Entre as prioridades, está uma solução para os gargalos que se apresentam nas vias de acesso ao Porto de Santos, em função da abertura do Trecho Sul do Rodoanel. Não vai adiantar muito voltar a crescer a 8% em 2011, se a economia continuar a esbarrar em obstáculos para o seu escoamento.

* Vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Email: fiorde@fiorde.com.br

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