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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Uma defesa da imprensa livre




A liberdade de imprensa foi o tema do último Painel RBS do ano, realizado No sábado (10) em Porto Alegre, com a presença de autoridades gaúchas e catarinenses. O evento foi marcado pelo lançamento do Guia de Ética do Grupo RBS
O sergipano Carlos Ayres Britto é poeta de rimas surpreendentes e um defensor intransigente da liberdade de imprensa. Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), ele foi o entrevistado do último Painel RBS deste ano, realizado ontem no Salão Nobre do Grupo RBS, em Porto Alegre. O Painel foi marcado pelo lançamento do Guia de Ética e Autorregulamentação Jornalística da empresa.

Um dos mais notáveis juristas do país – foi presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e atualmente ocupa a vice-presidência do STF –, o ministro é também autor de obras como o Varal de Borboletas e Uma quarta de farinha. Questionado pelos jornalistas da RBS Carolina Bahia, Rosane de Oliveira e Moacir Pereira, e também por autoridades gaúchas e catarinenses, Ayres Britto foi didático e objetivo no Painel. Condenou a censura prévia e criticou as tentativas de se controlar os meios de comunicação. Ao propugnar a plena liberdade de imprensa, soltou uma das tantas frases lapidares que proferiu no encontro:

– Não é pelo temor do abuso que se vai proibir o uso. Os abusos serão coibidos, sim, quando cometidos.

Ayres Britto observou que a liberdade de expressão é uma das “regras de ouro” da Constituição. Ao destacar que a liberdade de informar está na lei, lembrou de um episódio que lhe aconteceu – e que ilustra o anseio pela legalidade. Na saída de um evento, foi abordado pelo flanelinha que cuidava de seu automóvel na rua. Sem trocado no bolso para a gorjeta, pediu desculpas e perguntou se poderia ficar devendo. Foi então que ouviu algo que o surpreendeu: “Ministro, o senhor não deve nada. Basta que cumpra a Constituição”.

Nascido em Propriá, cidade de 28 mil moradores, batizada de “princesinha do Rio São Francisco” pela singeleza histórica, Ayres Britto foi erudito quando necessário. Citou o escritor checo Milan Kundera, discorreu sobre o pensamento de Norberto Bobbio quando o presidente da Assembleia Legislativa, Adão Villaverde, mencionou o filósofo italiano na sua pergunta.

O vice-presidente do STF recordou que a liberdade de imprensa é preocupação recorrente no tempo. Foi então que enfatizou a posição do pensador francês Alexis de Tocqueville, de meados do século 19, segundo a qual os excessos da liberdade, numa democracia, “se corrigem com mais liberdade ainda”.



Outra questão candente do Painel RBS foi o controle externo dos veículos de comunicação. Se for exercido pela sociedade civil, Ayres Britto o considera legítimo. No entanto, se for orquestrado pelo poder público, ou sob sua mediação, desaprova o intento.

Durante o Painel, foi lançado o Guia de Ética e Autorregulamentação Jornalística da RBS, que expõe os princípios, a linha editorial, os compromissos da empresa e a conduta de seus profissionais. O presidente do Grupo, Nelson Sirotsky, disse que o documento atualiza e reafirma normas e valores praticados ao longo dos 54 anos.

– Este documento é um contrato de transparência da empresa com todos os seus públicos, sejam leitores, telespectadores, ouvintes, usuários dos nossos serviços nas inúmeras novas plataformas digitais que já operamos – ressaltou Sirotsky.

Em seu discurso, Sirotsky citou o presidente emérito do Grupo RBS, Jayme Sirotsky, como um dos líderes mundiais da defesa do jornalismo ético, responsável e de interesse público. Lembrou que Jayme é coautor da Declaração de Chapultepec – uma carta de princípios de 1994 que trata da liberdade de expressão e de imprensa – e que está incluída no Guia de Ética.

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