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domingo, 18 de setembro de 2011

Assim cantam as gaúchas

Muito boa a reportagem, Mulheres em campo, da colega Patrícia Lima publicada no Jornal Zero de domingo, Caderno Donna. Aninha Pires, de Rio Grande, é um dos destaques da reportagem. ( AOS OLHOS DA MÃE, NA GAITA DO PAI). Vale a pena conferir. Trata-se de um grande talento, que orgulha os rio-grandinos. Parabéns Aninha.Abaixo a reportagem.

Sempre incentivada pela família, Aninha Pires conheceu a tradição no CTG Mate Amargo, em Rio Grande

Aninha Pires, 30, chorou muito ao ver o primeiro disco pronto: "Temos um encanto diferente no palco, que está sendo descoberto aos poucos"


Era uma manhã fria de maio em Rio Grande. Ana Lúcia Pires recebeu na porta de casa uma porção de caixas pesadas. Assinou o formulário do correio, carregou tudo para dentro, sentou e abriu uma delas. Tirou um CD novinho, fechado no embrulho plástico. Era ela mesma quem lhe sorria na capa. Chorou. Chorou muito. De alegria, de excitação, de saudade, de emoção.

As lágrimas da cantora Aninha Pires, 30 anos, se justificavam pelos motivos óbvios, afinal, era a realização do sonho de ver pronto o seu primeiro CD. E por motivos que só ela conhecia. Pouco mais de um ano antes daquela manhã, a mãe lhe fez uma confissão: estava guardando dinheiro para financiar o lançamento do CD com o qual a filha tanto sonhava. Foi a última coisa que lhe contou.

Aos Olhos de Quem Visita, canção que batiza o CD, é uma letra composta pela própria Aninha em homenagem à mãe, morta no mesmo dia da confidência em função de complicações em uma cirurgia. É o primeiro olhar sobre uma intérprete e compositora que nasce depois de alimentar, por anos, um amor profundo pela música e pelas tradições gaúchas. No CTG Mate Amargo, em Rio Grande, Aninha conheceu os fundamentos do tradicionalismo.

O pai gaiteiro fazia o acompanhamento para a pequena cantora entoar os sucessos aprendidos na invernada artística ou na vitrola de casa. O talento já aflorava na infância, nos palcos dos CTGs da região, quando se apresentava como intérprete.

Com a adolescência, veio a necessidade de afastamento de tudo o que tinha relação com o gauchismo. O intervalo iniciado aos 14 anos só fez com que o retorno, aos 19, fosse ainda mais comemorado. Mesmo assim, Aninha não cantava profissionalmente. Fez faculdade de Letras/Espanhol na Universidade Federal de Rio Grande e construiu sua carreira na licenciatura – profissão que mantém até hoje.

O chamado dos acordes, no entanto, não cessou. Há quatro anos, tomou coragem e participou do festival nativista Seiva da Terra, em sua cidade natal. Com a zamba chamada Un Amor que se Llevó el Mar, letra dela e música de Alexandre Souza, a dupla conquistou logo a maioria dos prêmios: primeiro lugar nativista, melhor intérprete, melhor música e revelação do festival. Desde então, a música vem tomando cada vez mais lugar em sua vida.

– Hoje, me divido entre a escola e os palcos. Por enquanto, ainda consigo conciliar, mas meu desejo é assumir a música como minha única atividade profissional – garante.

Professora de espanhol e criada meio na cidade e meio no campo, Aninha sente-se à vontade para interpretar os temas mais campeiros, mesclados com o folclore latino de que tanto gosta. Nos shows, que tem feito com cada vez mais frequência, ela transita livremente entre canções nos dois idiomas, sempre valorizando a singeleza da voz feminina nos ritmos mais tradicionais.

– Ainda temos um universo muito masculino na música nativista. Tanto que comecei a compor pela dificuldade de encontrar temas adequados à voz da mulher. Mas temos um encanto diferente no palco, que está sendo descoberto aos poucos. Há muito caminho pela frente – comemora.

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