Para acompanhar as 250 imagens, Luciana, colaboradora de ISTOÉ, escreveu textos envolventes nos quais mistura a aventura de uma vida com informações sobre a cultura iñupiaq (esquimó). Ela teve tempo de sobra para mergulhar na noite, sem o risco de ser interrompida pelo sol, e para conhecer o dia sem se preocupar com a chegada da escuridão. “O verão de Barrow é um grande dia de três meses. No inverno, são dois meses de total escuridão.” Um dia foi caçar patos com o então namorado Kelly Aikins na lagoa Elson. Ficou lá das 23h à 1h30, em plena luz do sol. No caminho de volta, experimentou um dos primeiros aprendizados que dificilmente teria em uma grande cidade: Kelly foi colocando os patos nas portas das casas de quem já não tinha idade para caçar. As aves abatidas eram deixadas sem nenhum alarde. O futuro marido, que morreu há dois anos, simplesmente as distribuía, anônimo, sem esperar gratidão ou reciprocidade.
CAÇA À BALEIA
Vegetariana, ela foi obrigada a relativizar suas convicções ao entender o significado da caça às baleias para o estranho mundo pelo qual se apaixonou. “Se essa caça fosse proibida, toda uma cultura se extinguiria e os esquimós passariam a ser americanos como quaisquer outros, de pele mais escura e olhos puxados”, diz.
No começo, foi difícil ganhar a confiança dos caçadores para acompanhá-los em suas fantásticas viagens, mas a brasileira acabou perdendo a conta das vezes em que testemunhou a aventura. “Não vivi nada igual àquele silêncio no gelo, à espera do surgimento de uma baleia”, conta Luciana, que rapidamente adotou a prática das mulheres locais de andar para cima e para baixo com os filhos presos ao corpo, dentro do casaco de pele. Já acostumada à rotina, em 2004 ela terminou o casamento com Kelly e passou a se dividir entre o Alasca e o Brasil. Agora tem ido três vezes por ano a Barrow, por motivos profissionais e para visitar a enteada AJ, de 22 anos. A primeira filha de Kelly tinha apenas 11 quando perdeu a mãe e ganhou a maternidade incondicional de Luciana.
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