Criada nos anos 50 para guardar os grãos colhidos pelos produtores rurais gaúchos, a Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) hoje tem outra especialidade: armazena dívidas e ações judiciais. Só em 2010, o governo do Estado precisou repassar R$ 33 milhões para fechar as contas da empresa. Em três páginas, ZH apresenta como a estatal se tornou um exemplo de péssima gestão pública.
Todos os prédios e os carros que pertencem à Cesa estão penhorados, as contas bancárias enfrentam sequestros diários de recursos pela Justiça, o número de ações trabalhistas é cinco vezes maior do que o de funcionários e dívidas acumuladas em reais equivalem a quase nove anos de receita.– O que encontrei foi uma empresa que está, no mínimo, há 20 anos abandonada pelo poder público – desabafa Jeronimo Oliveira Junior, presidente desde janeiro. Até tentativas de sanear a empresa geraram, em vez de soluções, novos problemas.
No ano passado, foi feito um acordo para repassar à Superintendência do Porto de Rio Grande a unidade local da Cesa. O porto pagou R$ 6,3 milhões de um total de R$ 77 milhões. Não houve tempo de completar o negócio no governo anterior, e o atual mudou de ideia. Mais uma conta foi espetada na extensa lista de pendências, já que a Cesa usou o dinheiro e agora precisa devolvê-lo.– A cada quatro anos, empresas públicas deixam de existir e começam de novo. A Cesa tem dificuldades em cumprir objetivos, não consegue remunerar bons funcionários, que ficam no mesmo barco dos que não querem ou não podem prestar melhores serviços – avalia Mario Lopes, um dos sócios da Serra Morena, empresa privada que atua na mesma área da Cesa e prepara expansão dos negócios.
Para frear o prejuízo, até o cafezinho foi cortado nos dois andares da administração, em Porto Alegre. Quando a ordem de compra de 20 quilos de café e 80 quilos de açúcar chegou ao presidente, foi barrada.– A Cesa é mal administrada. Os governos nomeiam políticos, não gestores. Não tem ninguém lá que possa fazer um estudo de viabilidade econômica – reclama Lourival Pereira, funcionário aposentado da companhia e presidente do Sindicato dos Auxiliares de Administração de Armazéns Gerais no Estado (Sagers). Um dos raros consensos entre administração e sindicato é a falta de pessoal. Faltam profissionais como um contador para fazer o balanço da companhia. No departamento jurídico, que enfrenta mais de 500 ações e um passivo potencial superior a R$ 30 milhões, trabalham um advogado contratado em regime emergencial e dois estagiários. – Havia uma terceirizada cuidando da contabilidade, mas foi embora em 2007. Ex-diretor da Cesa em duas gestões, José Carlos Celaro hoje é dono de uma empresa de armazenagem, a Qualitas. Saiu na década de 90, durante um Programa de Demissão Voluntária, e não tem ações contra a companhia.
– Há 15, 20 anos, começaram a faltar recursos, e foi dada prioridade à folha. À medida que perdeu estoques, faltaram recursos. Na minha empresa, o volume de ações trabalhistas é muito menor. O Estado é visto como uma fonte inesgotável, todo mundo quer tirar um pouco.
Presidente da Cesa de 2009 a 2010, Juvir Mattuella avalia que os problemas da empresa são antigos, mas admite que a situação se agravou no período que a dirigiu: – Houve uma violenta queda de receita, até hoje não sei por quê. A Cesa está falida há anos. Se fosse uma empresa privada, já teria fechado. Como técnico, eu me desfaria da Cesa.Ele garante ter feito o possível para salvar a Cesa. O relato dá a medida da precariedade:– Havia um débito grande com o governo federal. Chegou um momento em que a Receita ia colocar em leilão três unidades da companhia. Consegui sustar por amizade com o procurador-geral da Fazenda, que era filho de um colega da universidade. Exasperado com a falta de recursos, o atual presidente afirma que quer permitir aos gaúchos “enxergar a caixa preta” da Cesa: – Não basta um discurso de defesa, com esse caos à frente. Precisamos ter coragem para perguntar se o Estado cumpre sua função armazenando 1% do total disponível e mantendo um prejuízo de R$ 33 milhões, que poderiam ser usados em escolas, hospitais, estradas. Esse é o debate, o resto é poesia. Como está hoje, a Cesa não tem nenhuma função.
– Há 15, 20 anos, começaram a faltar recursos, e foi dada prioridade à folha. À medida que perdeu estoques, faltaram recursos. Na minha empresa, o volume de ações trabalhistas é muito menor. O Estado é visto como uma fonte inesgotável, todo mundo quer tirar um pouco.
Presidente da Cesa de 2009 a 2010, Juvir Mattuella avalia que os problemas da empresa são antigos, mas admite que a situação se agravou no período que a dirigiu: – Houve uma violenta queda de receita, até hoje não sei por quê. A Cesa está falida há anos. Se fosse uma empresa privada, já teria fechado. Como técnico, eu me desfaria da Cesa.Ele garante ter feito o possível para salvar a Cesa. O relato dá a medida da precariedade:– Havia um débito grande com o governo federal. Chegou um momento em que a Receita ia colocar em leilão três unidades da companhia. Consegui sustar por amizade com o procurador-geral da Fazenda, que era filho de um colega da universidade. Exasperado com a falta de recursos, o atual presidente afirma que quer permitir aos gaúchos “enxergar a caixa preta” da Cesa: – Não basta um discurso de defesa, com esse caos à frente. Precisamos ter coragem para perguntar se o Estado cumpre sua função armazenando 1% do total disponível e mantendo um prejuízo de R$ 33 milhões, que poderiam ser usados em escolas, hospitais, estradas. Esse é o debate, o resto é poesia. Como está hoje, a Cesa não tem nenhuma função.
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